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04/07/2012

Sonhos e picolés






( Carlos Soares)


Estava esperando o carro do trabalho, vinham dois meninos juntos, cada um com um tabuleiro. Perguntei. “Estão vendendo o quê?”. O maior respondeu. “Sonhos”. Fiz uma brincadeira, mas ele não entendeu. “Sonho a gente não vende, a gente dá de graça”. Retrucou logo. “Ah, de graça? Tá doido? Eu tenho que vender, vivo disso”. Ri e pedi um, estava até gostoso. Virei pro outro. “E você, está vendendo o quê?”. Mais tímido, disse. “Sonho também”. Estranhei. “Ah, um está ajudando o outro e depois dividem o dinheiro?”. “Não, cada um vende o seu”, respondeu o maior. Aconselhei. “Vocês não podem andar juntos, um atrapalha o outro, enquanto isso tem gente em outro bairro querendo comprar sonhos, e vocês aqui, concorrendo um com o outro”. Para ajudar comprei um do menino menor também. Foram embora discutindo minha sugestão, parece que gostaram. Acabei me lembrando de quando Marcelo e eu, fomos vender picolé, mas em parceria, um carregava a caixa e outro gritava. “Olhaêêê o sorveeeteeee”. Um dia o sol estava rachando mamona, e eu tive uma idéia malandrinha. “Minha voz é mais forte que a sua, grito melhor. Eu grito, você carrega”. No princípio ele topou, até porque eu fazia rimas anunciando o sorvete pelas ruas, e isso fazia vender muito. “Ô seu José. Meu sorvete é gostoso, tenha fé”. “Alô Dona Maria, vai um sorvetinho aí pra refrescar o dia?”. Mas com o sol de lascar, caixa super pesada, ele foi desconfiando. “Ah não, Carlos. Esse troço está pesado, e você só aí na boa. Carrego mais não”.Tentei argumentar, de nada adiantou, discutimos feio. “Pois por mim essa caixa fica aí no chão, eu não pego”. “Nem eu”. Saímos um pra cada lado deixando a caixa na calçada. Andei bem uns dois quarteirões, sentei numa esquina, e a consciência e o medo falaram mais alto. “Puxa vida! Se alguém rouba aquela caixa, estamos fritos. O moço da sorveteria tem nosso endereço, vai cobrar de nossos pais, os picolés e a caixa. Além do mais, ele está certo, não pode só ele carregar. Vou voltar lá, pegar a caixa, vendo tudo, depois dou a parte dele”. Quando cheguei perto, Marcelo já estava com a caixa na mão. Perguntei. “Aonde você vai com essa caixa?”. Ele. “Vender picolé, ora”. Falei pegando a caixa de seu ombro. “Eu também vim vender. Eu pensei melhor... eu vou carregar também, assim cansamos por igual”. Vi que ele ficou feliz por eu voltar. “Vamos fazer assim. Eu sei que você grita melhor, a gente vende mais quando você grita. Eu carrego maior parte do tempo, mas quando eu cansar, você carrega só um pouquinho , só até eu ficar menos cansado”. “Combinado... mas vê se faz umas rimas pra alegrar o povo”. Mas pra rima ele não tinha jeito, nem mesmo usando as minhas. Assim sem mais nem menos, a parceria acabou, não vendemos mais picolés juntos. Mas a amizade não. Jogávamos bola juntos todos os dias... e sempre no mesmo time. Na hora de escolher os times, meu nome era o primeiro chamado por ele. “Carlos, vem pra cá”





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5 COMENTÁRIOS:

chica

Carlos sempre escreve muito bem.Gosto de estar em seu blog, sempre que posso! abração aos dois,chica

L.M.

Que texto lindo e refrescante...adorei ler!
Beijos
Lita

Giancarlo

Un bel testo! felice giornata a te...ciao

Agregador Teia

Olá.
Muito legal,gostei,parabéns.
Até mais

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR)

Obrigado, Anne e amigos por postar e comentar meu texto aqui nesse espaço tão legal.

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