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28/02/2014

Ensaio sobre a velhice


Ensaio sobre a velhice

( Miriam Salles)




Não sei contabilizar direito o dia que ela chegou; mas,foi no toilette do cinema Glauber Rocha que,de repente,me deparei com ela.Ao ver-me no espelho,a reconheci.

Quando desço as escadas da minha casa já sinto a diferença ;as pernas seguem lentas e arrastadas como um carro de boi.

Preciso firmar bem a vista para descer escadas rolantes.E, belos e fortes mancebos,reverentes, sempre me ajudam a descer rampas ou escadas.A própria palavra “mancebo” já vem de outros tempos e me remete aos meados do século passado.

A minha casa,construída com tanto carinho,”tijolo por tijolo num desenho lógico”  precisa de consertos,pintura nova ,esmaecidas as pedras do terraço...Quando me queixo dos custos os profissionais chamados dizem:- Mas,se essa casa é velha! Concordo,ela tem conserto,eu ,não…

Mas,eu amo a velhice!Se soubermos,poderemos ,até ,tirar dela certos prazeres. “Agradabilíssimos são os frutos do fim da estação” ,dizia Sêneca. Ou ,ao menos ,eles,os prazeres, não nos são mais tão necessários.E,ser velho ,hoje,não é como no meu tempo de criança,quando a vida ,praticamente acabava aos cinquenta e as mulheres cobriam-se de preto e enfeitavam-se com terços.Quando eu tinha dezesseis anos,o Brasil era um país de jovens;para se ver um velho tinha-se que ir aos asilos,pois,eles ficavam recolhidos em casa,cuidados por suas famílias,agarrados ao cordão do “não pode”.Não  pode sair só ás ruas,nem gerir seus bens, pois, pode fazer besteira,nem comer do que gosta por causa da pressão – arterial e familiar,esta ,em alguns casos ,a pior – nem vestir-se com gosto,principalmente as mulheres.Onde já se viu ,vestir vermelho na sua idade!?  Quer virar uma velha desfrutável?

Duro,para alguns,é encarar a morte.Mas,idade avançada não é sinônimo de morte;pelo que eu sei ninguém é escalado pela idade e,infelizmente,os jovens andam se despedindo da vida mais rápido que os idosos que se apegam a ela com denodo e resistência.

Como devemos viver e curtir cada dia como se fosse o último,vamos nos organizar e receber com gosto a dádiva da vida ,pois,depois dos sessenta já estamos fora do prazo de validade e tudo é lucro.

Vamos festejar cada dia que chega e se vai,cada noite curta ou longa,cada minuto restante.

Somos todos atores neste palco da vida; ao menos,saiamos sob aplausos.



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7 COMENTÁRIOS:

chica

Tiro mais uma vez o chapéu pra Miriam. Ela descreveu exatamente o que acontece. De uma hora pra outra, pluft: ela está em nós. E as casas, parecem nos mostrar isso; Tudo estraga, tudo precisa reparos.Haja saco! E a paciência? Onde foi parar? rs...
ADOREI! beijos pras duas que adoro! Miriam, que saudades daquela tua comidinha tri boa, na tua casa! Não esquecemos nunca! chica

Edna Lima

Que real definição da velhice. Adorei .É que ando inconformada.
O bom é que podemos vestir vermelho.
Um batom e sombras,
Boa folia em ritmo lento mesmo.
Bom dia . Beijos. Edna Campos.

Beatriz Bragança

Querida Anne
Gostei muito deste texto! So nao concordo com um detalhe: depois dos 60, nao estamos fora de prazo! A vida nao tem prazo.Morre-se ao nascer, com dias ou meses de vida...mas, quem sobrevive, seja qual for a idade que atingiu, quer viver e pode e deve faze-lo .
A vida e a maior dadiva que temos e devemos torna-la um paraiso:a nossa e a dos outros.
Dias felizes.
Beijinho
Beatriz

Poesia do Bem

Muito belo e reflexivo este texto de miriam, que é sempre tão autêntica e trás muita sensibilidade em seus textos. Ameiiii e é verdade a velhice chega para todos precisamos então termos a alma e o coração jovens para vivê-la bem.

Marli Soares Borges

Querida Anne,
muito bacana o texto da Miriam! A velhice é isso mesmo e graças a Deus, hoje os tempos são outros e podemos recebê-la exatamente como é: uma dádiva da vida. Bjs nas duas. Marli

Manuel Tomaz
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Tomaz

Belo ensaio sobre velhice. Há um tempo em que os velhos são os outros...

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