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28/06/2014

Rastros de Lambari

RASTROS DE LAMBARI

(Jorge Lemos)





Sem poder fazer bonito para a família da namorada, num lugar escasso de oportunidade na época, Natan decide deixar a cidade para partir rumo a São Paulo.

A ligação com eldorado sonhado por ele era feita pela estrada de ferro —, Maria Fumaça (RMV).


O dia marcado chegou e a pequena mala ficou pronta. Como se quisesse sentir o caminhar sobre o brilho negro dos paralelepípedos naquela manhã, ele saiu do Bar do Juca mais cedo, lugar em que trabalhara até aquele instante. Magro, cheio de dúvidas, lá seguia ele para a estação Parada Melo.


Imóvel na plataforma, remexendo o dia anterior, de repente o coração trepidou! Sua namorada, cuja família os proibia, descobrira que ele estava partindo.

Teve vontade de falar que sabia do casamento que estavam arrumando para ela, mas se calou e a abraçou forte. Beijou-a e foi correspondido pela boca feita de amor.


Ficaram sem palavras, olhando um para o outro, — havia um mal-estar deixado pela discussão da noite que antecedera aquele momento. O apito do trem passou pela plataforma e se apagou com o aumento do frio na barriga dele. Olhando-a nos olhos azuis marejados, trouxe-a para si mais uma vez; foi correspondido, mas continuou quieta como se fosse uma estátua parcialmente viva.


O calor da caldeira preta passou devagar bufando vapor pelas ventas laterais e fez parar na sua frente o vagão de segunda classe. Aconteceu um beijo cheio de dor e, esmagado pelo silêncio, ele subiu os degraus e parou no último sem tirar o olhar da plataforma — o tempo encolhido sepultara o diálogo.


O ar começou a ser socado pelo barulho da caldeira e ranger das ferragens, a seguir o apito de partida disse a ela que ele estava sendo raptado pelo destino.


Novelos de fumaça foram descendo sobre os vagões escorreram sobre os trilhos e começaram a erguer-se sobre a plataforma. O corpo esguio e amável ergueu o braço e, como se estivesse defronte a um espelho embaçando-se, a silhueta delicada apagou-se antes que o trem chegasse à primeira curva.


Dois anos depois Natan voltou à cidade. O casamento arranjado acontecera e Isabel mudara-se para o Rio de Janeiro...


Ainda hoje, quando olha para o que sobrara da plataforma da estação Parada Melo, vê os olhos azuis marejados, ouve o apito do trem e as palavras que não saíram da boca feita de amor fazem uma frase suspensa sobre o lago: “não vá!”



Veja o novo livro do autor que será lançado em agosto:



5 COMENTÁRIOS:

chica

Lindo e triste conto.Faltou a coragem de impedir a partida.Agora sobra a tristeza. Lindo! abração e tudo de bom aos dois! chica

Unknown

Obrigado pelo comentário, Chica. A opinião lúcida nos estimula e faz muito bem para ego (riso).
Espero que o meu próximo escrito traga apenas beleza e alegria...
Tenha um iluminado fim de semana...
abraços
jorge.

ZULMIRA ROMARIZ

Gostei do que li, a história é
linda, triste, mas linda, parabéns
ao autor, beijo

Elvira Carvalho

Gostei da amostra. Uma história de uma amor que se perdeu nos trilhos da vida. Parece que ficou algo no ar, o que devia ser dito e não foi, deixa a história mutilada. Haverá outra oportunidade, um dia qualquer?
Um abraço e uma boa semana

Sônia Silvino (CRAZY ABOUT BLOGS)

Mais uma bela escolha: quem sabe, sabe!
Beijos!

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