Aluga-se

ALUGA-SE!

(Luz)

Aluga-se!

É verdade. Alugo o meu coração

que é grande, generoso, amplo e espaçoso

e tem, à volta, um jardim calmo e cheiroso.

Já não é novo, em primeira mão, a estrear

pois já foi habitado e mais tarde esvaziado

mas juro que está limpo, livre e em condições

de poder ser, de novo, seriamente, ocupado.

Tem gavetinhas divididas, com cor, amorosas 

não necessitando ficar nadinha, fora do lugar

porque há lá espaço para guardar o que quiser

tal como os beijos, os abraços e as sensações.

A sala maior é vermelha, apaixonada e ousada

com largas janelas, para encandear a razão

e uma lareira, como convém, nestes casos 

para dar calor e colocar em ebulição a paixão. 

Todas as outras divisões têm varandas francas

que estão todas viradas, de olhos postos no mar

presente que pretendo ofertar ao novo morador

para que ele facilmente possa relaxar e sonhar.
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Possui também a suite presidencial, de espantar

com elevador privativo, discreto, fundamental

para que o amor ascenda e se eleve, sem parar

naquele delicioso refúgio para alguém especial.

Todos os quartos possuem música ambiente

para que o novo morador se sinta bem envolvido

ausente do mundo e alheio aos acontecimentos

numa outra esfera, noutra galáxia, diferente. 

O espaço interior é acolhedor e bem desafogado

e foi decorado com flores silvestres, sãs, viçosas

que se quiseram juntar às suas amigas, as rosas

para que o novo morador, fique logo purificado.

Aluga-se!

Acreditem! Alugo o meu coração.

O preço? Não fique, nem um pouco, preocupado

porque é simbólico, acessível a todos e irrisório.

Repito, honestamente, que o preço é de ocasião

ocasião, que não deve, de modo nenhum perder

pois vai ter um lugar aprazível e muito sensível

onde vão caber as suas emoções, com elevação.

Vá lá, por favor, alugue-o!

Ajude-me, porque eu já não tenho mais mão

no meu coração tresloucado e destemperado

que, apesar dos fracassos, quer ser reocupado.

Voltando ao preço, digo-lhe, palavra de honra

paga-se à vontade e nem dá por isso, vai ver

porque quem o quiser alugar e nele se instalar

nada deve recear, porque tudo nele é invulgar.

E pense nas vantagens, nas inúmeras vantagens

que só mais tarde, serenamente, descobrirá

quando, em momentos soberbos, vividos a sós

esquecer-se-á que existe gente, mas apenas nós. 

Tudo isto, tudo o que lhe expliquei e apresentei

paga-se, somente, com amor puro, avassalador

muito afeto, muita ternura, fidelidade e querer

e não é necessário qualquer contrato, sequer.

Aceita as condições? Sim, jura?

Prometa-me, apenas, uma coisa simples, linear 

ficar nele, enquanto o fogo no seu peito crepitar 

e o seu coração, sobretudo, o sentir e o desejar.

Aluga-se!

Creiam! Alugo o meu coração.

Vou já facultar a morada, e agora é de vez

para que possa lá chegar, com anseio e rapidez.

Então, tome nota nesta pétala de rosa branca

guarde-a bem, junto ao seu peito, delirante

apresse o passo na caminhada, feliz e confiante.

Ficará, decerto, encantado, olhando, deslumbrado

ao meter a chave à porta intacta e ver tudo aquilo

novinho em folha, sem mácula, com sedução e arte

porque tudo isto guardei para si, como comprovará

e o meu corpo, eu, desse tudo, lógico, faço parte.

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