Ensaio sobre a velhice
( Miriam Salles)
Não
sei contabilizar direito o dia que ela chegou; mas,foi no toilette do cinema
Glauber Rocha que,de repente,me deparei com ela.Ao ver-me no espelho,a
reconheci.
Quando
desço as escadas da minha casa já sinto a diferença ;as pernas seguem lentas e
arrastadas como um carro de boi.
Preciso
firmar bem a vista para descer escadas rolantes.E, belos e fortes
mancebos,reverentes, sempre me ajudam a descer rampas ou escadas.A própria
palavra “mancebo” já vem de outros tempos e me remete aos meados do século
passado.
A
minha casa,construída com tanto carinho,”tijolo por tijolo num desenho
lógico” precisa de consertos,pintura
nova ,esmaecidas as pedras do terraço...Quando me queixo dos custos os
profissionais chamados dizem:- Mas,se essa casa é velha! Concordo,ela tem
conserto,eu ,não…
Mas,eu
amo a velhice!Se soubermos,poderemos ,até ,tirar dela certos prazeres.
“Agradabilíssimos são os frutos do fim da estação” ,dizia Sêneca. Ou ,ao menos
,eles,os prazeres, não nos são mais tão necessários.E,ser velho ,hoje,não é
como no meu tempo de criança,quando a vida ,praticamente acabava aos cinquenta
e as mulheres cobriam-se de preto e enfeitavam-se com terços.Quando eu tinha
dezesseis anos,o Brasil era um país de jovens;para se ver um velho tinha-se que
ir aos asilos,pois,eles ficavam recolhidos em casa,cuidados por suas
famílias,agarrados ao cordão do “não pode”.Não
pode sair só ás ruas,nem gerir seus bens, pois, pode fazer besteira,nem
comer do que gosta por causa da pressão – arterial e familiar,esta ,em alguns
casos ,a pior – nem vestir-se com gosto,principalmente as mulheres.Onde já se
viu ,vestir vermelho na sua idade!? Quer
virar uma velha desfrutável?
Duro,para
alguns,é encarar a morte.Mas,idade avançada não é sinônimo de morte;pelo que eu
sei ninguém é escalado pela idade e,infelizmente,os jovens andam se despedindo
da vida mais rápido que os idosos que se apegam a ela com denodo e resistência.
Como
devemos viver e curtir cada dia como se fosse o último,vamos nos organizar e
receber com gosto a dádiva da vida ,pois,depois dos sessenta já estamos fora do
prazo de validade e tudo é lucro.
Vamos
festejar cada dia que chega e se vai,cada noite curta ou longa,cada minuto
restante.
Somos
todos atores neste palco da vida; ao menos,saiamos sob aplausos.
Visite a autora em seu blog:
7 COMENTÁRIOS:
Tiro mais uma vez o chapéu pra Miriam. Ela descreveu exatamente o que acontece. De uma hora pra outra, pluft: ela está em nós. E as casas, parecem nos mostrar isso; Tudo estraga, tudo precisa reparos.Haja saco! E a paciência? Onde foi parar? rs...
ADOREI! beijos pras duas que adoro! Miriam, que saudades daquela tua comidinha tri boa, na tua casa! Não esquecemos nunca! chica
Que real definição da velhice. Adorei .É que ando inconformada.
O bom é que podemos vestir vermelho.
Um batom e sombras,
Boa folia em ritmo lento mesmo.
Bom dia . Beijos. Edna Campos.
Querida Anne
Gostei muito deste texto! So nao concordo com um detalhe: depois dos 60, nao estamos fora de prazo! A vida nao tem prazo.Morre-se ao nascer, com dias ou meses de vida...mas, quem sobrevive, seja qual for a idade que atingiu, quer viver e pode e deve faze-lo .
A vida e a maior dadiva que temos e devemos torna-la um paraiso:a nossa e a dos outros.
Dias felizes.
Beijinho
Beatriz
Muito belo e reflexivo este texto de miriam, que é sempre tão autêntica e trás muita sensibilidade em seus textos. Ameiiii e é verdade a velhice chega para todos precisamos então termos a alma e o coração jovens para vivê-la bem.
Querida Anne,
muito bacana o texto da Miriam! A velhice é isso mesmo e graças a Deus, hoje os tempos são outros e podemos recebê-la exatamente como é: uma dádiva da vida. Bjs nas duas. Marli
Belo ensaio sobre velhice. Há um tempo em que os velhos são os outros...
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