QUINTAL
( Arnoldo Pimentel)
As crianças
desapareceram do quintal, foram levadas uma a uma pela vida, cada uma seguiu
seu próprio caminho, ficaram as vozes e os risos das brincadeiras, que ainda
ecoam nas lembranças que pintam as portas e as janelas de verde, de ilusão. No
quintal ainda existe o catavento, a bomba d’água manual, que não bombeia mais
água para saciar a sede das crianças no quintal. As portas e janelas verdes da
casinha branca foram abertas uma a uma , ainda no nascer do dia, o homem com
seus setenta e poucos anos saiu pela porta da frente, respirou o ar puro, caminhou
até a bomba d’água manual, bombeou a água, lavou o rosto, saciou sua sede,
olhou o catavento que se movia, sentiu o vento no rosto como se estivesse
catando o vento assim como o catavento e como todas as manhãs atravessou o
quintal e seguiu até uma árvore que ficava quase na subida do morro, onde
nascia o pequeno riacho que passava lá no fundo do quintal, chegou junto à
árvore, onde embaixo era a morada de sua esposa que se foi há álbum tempo,
ajoelhou-se e orou como em todas as manhãs.
- Sinto saudades de
você – murmurou baixinho
Sentiu o vento tocar
seu rosto como se o beijasse, levantou, fez o sinal da cruz e voltou lentamente
para casa, parou novamente na bomba d’água manual, que não bombeava mais água
para matar a sede das crianças no quintal, matava a sede apenas de quem ficou
sozinho catando o vento catado pelo catavento no quintal, que ficava muito além
de qualquer litoral, bebeu água sendo observado pelos pássaros que estavam nas
árvores ilustrando a manhã de sol, pintando de natureza o pequeno quintal. O
homem que era observado pelos pássaros entrou na casinha branca com portas e
janelas verdes, que estavam abertas, caminhou até a sala, pegou a espingarda de
caça, que a muito tempo não pegava, havia muito tempo que não caçava, sentou no
sofá com a espingarda e sentiu o cheiro da mata que observava pela janela. Lá
fora os pássaros sobre as árvores fizeram silêncio quando sentiram as portas e
janelas verdes da casa serem fechadas, ouviram o silêncio que vinha de dentro
da casa, ouviram o vento pelas frestas entrar na casa, de repente partiram em
revoada, todos de uma só vez, quando ouviram o grito da espingarda que ecoou em
todos os cômodos da casa.
Esse conto faz parte da “Trilogia da Casinha
Branca” caso o amigo(a) tenha um tempinho leia os outros dois nos links abaixo
MURMÚRIOS DAS ÁGUAS
10 COMENTÁRIOS:
Saudades são saudades!
Conto muito bom. Fiquei em dúvida com o que aconteceu com o estampido da espingarda.
Abração.
OLÁ, amigos
Estive ausente pela Quaresma...
"Renovar
Perdoar
Esquecer
Corações aquecer!!!"
(Orvalho do Céu)
Páscoa é:
"Coragem é a resistência ao medo,
domínio do medo,
e não a ausência do medo."
(Mark Twain )
SAIR DO PRÓPRIO TÚMULO
Jesus libertou-me... enviou-me anjos para me soltar das amarras que me prendiam...
Apóstolo Pedro: “precisamos dar razões que justifiquem a nossa Esperança” (1Ps 3,15).
FELIZ PÁSCOA PARA TODOS NÓS!!!
Abraços fraternos de paz
Ola,
Muitos sabem lidar bem com o que há de positivo na saudade, aquele sentimento gostoso de lembranças que estão lá na mente e no fundinho do coração. Porém muitos não sabem reagir a essa situação e vivenciam o lado mais perverso da saudade.
Não da para saber o que aconteceu, mas espero que nada tenha acontecido com o personagem da história.
Abraços Flávio.
--> Telinha Crítica <--
E quem não tem saudades. Esse conto do Arnoldo é mesmo fantástico, Beijos . Feliz Páscoa!
adorooo sempre os textos que vc coloca :)
bjuss
Oi Anne! Passando rapidinho para deixar uma FELIZ PÁSCOA e oferecer o selinho de páscoa. Beijokinhas e bom feriado!!!
Um texto sensível e maravilhoso! E gostei da sutileza que você teve para falar da morte e do suicídio... quem nunca teve na vida, uma única vez que fosse, vontade de morrer? Mas felizmente, a maioria de nós tem em si um amor maior pela vida do que pela morte, embora ambas sejam uma e a mesma coisa, mas cada uma deve ser desfrutada no seu devido tempo.
Excelente conto, fica em aberto o que aconteceu com o personagem no final, mas aguça a nossa imaginação, Arnoldo eu gostei demais, beijos Luconi
Muito obrigado pela postagem , por divulgar meu trabalho e o blog do Gambiarra Profana. Deus te ilumine.Beijos
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