O RIO DOS SONHOS
( Marcio Jr.)
É noite, e meu corpo cansado repousa.
O sono, no entanto, não é suficiente para deter minha alma, que se aviva e sai
numa busca que já dura décadas. São caminhadas longas e espinhosas, e ela
sempre retorna de mãos vazias, porém, sem jamais desistir.
No caminho, minha alma encontra
montanhas altas. Muitas noites foram necessárias para que ela pudesse
prosseguir, pois escalar aquelas montanhas era algo quase impossível. Uma
noite, no meio da escalada, minha alma despencou, e neste instante ela reparou
que flutuava. Pediu com tanta força para que não descesse novamente ao chão,
que voou lindamente.
Depois das montanhas, meu espírito
chegou ao rio. Mas ali, não adiantaria voar, pois os pés deveriam tocar a água.
Minha alma sabia disso. Era preciso andar, cruzar aquele profundo poço em
corrente forte, e se fosse o caso, pagar por isso com o fim da própria
existência. Foi quando o medo tomou novamente meu espírito. Minha alma andou
muito, até chegar na praia. Ia e voltava, mas não atravessava.
Seria lá, na outra margem, que estava
o que minha alma tanto buscava? E o que seria? Um tesouro que me foi tirado? Ou
então seria algo sagrado que me foi confiado e perdi por meu descuido?
O vale do medo era atravessado a cada
noite que minha alma voltava ao rio, e o vale e suas criaturas já não
assustavam mais. Nem as montanhas me seguravam. Sentia que aquilo que buscava
era como se fosse um pedaço de mim mesmo, um pedaço de minha própria alma, e eu
iria buscar. Estou cansado. Não quero mais andar, mas preciso. Vou adiante, nem
que arrastado, mas vou. Termino aqui minha vida, e me entrego ao desconhecido,
mas não desistirei. Sequer a selva das dúvidas me parou, e não será um rio que
fará isso agora.
Outra noite chega, e lá vai ela.
Agora, ela sabe que enfrentará a escuridão, o desfiladeiro das nuvens negras.
Mas pouco importa, pois durante todo esse tempo, ela aprendeu a enxergar o
escuro com os olhos do cego, e jamais se perderá. Somente o rio. Ele sim pode
me parar.
Sequer sei se existe uma vida após
esta vida, pois a pouco tempo atrás nem em alma eu acreditava. Deus me batizou
pelo fogo quando ensinou minha alma a voar, mas não ensinou como nadar. Lá, do
outro lado do rio, está a terra prometida e o que eu tanto procuro. Não
esperarei mais.
Todos nascemos em pequenos olhos
d’água e desaguamos em oceanos, então, por que o medo? No meio da noite, as
águas refletem o luar e chamam minha alma, que não se contém e pisa o passo
mais difícil, o primeiro. Estranhamente, a água não é fria, e sequer molha meus
pés. Outro passo, e mais outro, outro... outro.
Minha alma não mergulhou, mas também
não flutuou. Minha alma andou sobre as águas. Nesse instante, achei o que tanto
minha alma procurava. Enfrentei todos os medos, todas as dúvidas e as criaturas
mais estranhas e perversas. Reencontrei minha FÉ.
5 COMENTÁRIOS:
Lembro bem desse lindo texto do Márcio e também da emoção que senti. Lindo demais, como sempre!!abração aos dois e tuuuuuuuuuuuuuudo de bom!chica
Lindíssimo!Uma busca pela fé é uma busca por si mesmo.
Muito lindo esse texto! O Márcio é excelente! Beijos
é...caminhos, vivos ou simbólicos teão que ser vencidos... e se existe alma, o restante tambem existe... bjuu pelo lindo texto. bjuuu Anne
Olá, Anne.
Eu teria vindo antes, mas o Google resolveu, do nada, cancelar meu e-mail justamente do blog. Como resultado, fiquei sem acesso. Será que vai começar novamente a bagunça de excluir blogs? Por via das dúvidas, vou fazer backup do meu.
Anne, minha querida amiga. Te sou grato por me ceder espaço novamente aqui. O Recanto dos Autores se transformou num ponto de encontro dos blogueiros, e nele, temos a tua bondade e dedicação em garimpar pérolas por esse mundão que virou a web. Sempre um prazer muito grande poder ver um dos meus humildes escrivinhamentos por aqui.
Bjs, minha querida amiga. E, claro, meu abraço e carinho a todos os que passarem por aqui e lerem meu escrito.
Abraços a todos.
Marcio
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