( Augusto Sperchi)
Dizem que, na lei do mar, o peixe grande devora o pequeno, e
que, na lei da selva, não há espaço para os doentes e fracos e somente
sobrevivem os fortes e capazes de se esquivar dos predadores. Na natureza, o
predador não pode ser visto como o negativo porque, ao alimentar-se de outros
animais, promove indiretamente um controle de natalidade das espécies predadas.
A superpopulação poderia aniquilar uma espécie não apenas pela falta de
alimento, mas também pelo instinto agressivo de sobrevivência. Assim, as aranhas,
libélulas, aves, pequenos mamíferos e outros predam os insetos, mantendo sua
população controlada. Os felinos no geral, hienas, cães selvagens, ursos,
lobos, lontras e outros carnívoros mantêm não somente suas populações num
rígido controle, mas também as populações das espécies predadas, permitindo,
dessa forma, que o equilíbrio se estabeleça no sistema. A mesma coisa acontece
nos mares, lagos, pântanos, selvas e montanhas. É justamente esse equilíbrio
que faz alguns homens pensarem que a natureza possui uma sabedoria ou até mesmo
uma consciência de si mesma e das coisas vivas que ela mantém. Isso fez surgir
uma teoria, a Hipótese Gaia. Segundo ela, o planeta é um imenso organismo vivo,
capaz de se autorregular, e que a vida controla a manutenção da própria vida.
Apesar da discordância dos cientistas, ela chama a atenção para as relações
entre os seres vivos e os ambientes, entre a espécie humana e os demais seres
vivos, além de refletir sobre o impacto que nossas ações causam no planeta.
Assim, as leis do mar, da selva e a teoria de Gaia, fruto de uma observação
direta, tão válidas em qualquer ecossistema, também se aplicam às sociedades
humanas de hoje. Desde a Idade Moderna, a concentração de capital nas mãos de
poucos, vem determinando uma concorrência desleal e imoral entre os homens a
ponto de fazer surgir um valor muito apreciado na atualidade. É a
competitividade. Ter competência não significa apenas que uma pessoa possui
habilidade para realizar tal coisa; mas que ela seja capaz de superar a si
mesma e as demais, mesmo usando de meios escusos e subterfúgios nefastos. Uma
pessoa assim é valorizada no mercado de trabalho. Há algumas décadas, o bairro
onde morava era servido por mercearia, padaria, sapataria, farmácia, quitanda,
armazém, lojas de tecidos, móveis, material para construção e outras. Em pouco
tempo, uma grande loja de departamentos se instalou num imenso terreno onde a
molecada jogava pelada e empinava suas pipas. O povo achou maravilhoso ir a um
lugar e encontrar tudo aquilo de que precisava apenas percorrendo os
departamentos. Os preços então, eram de se admirar! Crédito? Nem se diga!
Facilidades, entrega rápida, variedades, novidades? Não tinha para ninguém! Em
apenas dois anos quase todas as lojas do bairro faliram. Para não morrer de
fome, o dono da padaria foi trabalhar como funcionário na grande loja, porque
tinha suas habilidades. O pedreiro passou a ser entregador de material de
construção. Os funcionários de várias lojas falidas encontraram ocupação nos
mais diversos setores. O farmacêutico foi o último a encerrar sua atividade.
Dizia que estava se aposentando, mas todos sabiam que era a concorrência de uma
imensa drogaria ocupando todo um setor da grande loja. Assim que todas
fecharam, o peixão aumentou todos os preços e o povo ainda paga caro pelo
encantamento. A lei do mar e da selva, levada às últimas consequências e
ultrajada em sua origem, acabou se impondo. O predador humano pouco se importa
com o equilíbrio natural, superpopulou o planeta, estabeleceu a competitividade
como o valor máximo e dá de ombros para um possível aniquilamento. Assim
caminha a desumanidade.
Visite o autor: Augusto Sperchi
5 COMENTÁRIOS:
"Assim caminha a desumanidade"...
Sábio post, é isso mesmo e a gente não percebe a "desumanização.
Estamos iludidos e o encanto vai até onde?
Abços
Maravilhoso texto e o homem, infelizmente ,ainda não está convencido que precisa RESPEITAR sua terrinha... abração aos dois,chica
o homem: ambicioso e desleal corre para as aparentes vantagens. um mega texto.felicitações. Anne sempre nos trazendo o top... bjuuu nos dois
Olá Anne! Gostei demais de você ter publicado meu texto. Seu espaço é muito interessante e as publicações são de alto nível. Isso demonstra seu gosto e caráter em publicar também todos os créditos dos autores. Esteja à vontade para publicar qualquer texto do meu blog, tá? Um grande abraço!
Muito bom, a grande verdade é que a humanidade está perdendo o direito a este nome, nunca foi vista tanta desumanidade, uma pena, beijos Luconi
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