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15/10/2013

Começando a escola...


COMEÇANDO A ESCOLA...







Penso ter sido a 7 de Outubro de 1963!

Finalmente iam-se abrir as portas da iniciação escolar, íamos para a primária.

Há dias que sentíamos um nervoso miudinho, fruto da ansiedade.

Afinal o que era ir para a escola, diziam, aprender a ler e escrever. E ter regras.

Afinal o que seriam as regras, nós já as tínhamos os castigos das nossas tropelias ou seria que ali iríamos ter mais castigos por já antevermos que seria uma casa de aventuras?

À noite, depois da ceia, a minha mãe ia costurando agarrada à máquina Singer. Esta a fazer a sacola de pano azul, cuja alça poria a tiracolo. Na véspera colocou dentro o livro, no qual aprendeu a ler a minha irmã Lurdes, um caderno com linhas reservado aos ditados e redacções, a pedra de lousa com caixilhos de madeira na qual se iriam fazer os exercícios. 

Faltava a caneta de aparo para molhar no tinteiro incrustado no tampo da carteira.

Noite mal dormida, calção vestido preso por suspensórios, apesar de já termos entrado no Outono, mas ainda estar quente. Botas de cabedal ensebadas e boina espanhola na cabeça e vamos ver como é o mundo de quem sabe ler.

À saída do páteo, volto atrás, faltava o pião que logo meti na sacola e a minha rica fisga.

Agora sim, podia enfrentar o mundo e ia armado com a fisga no bolso de trás.

Ao fechar a porteira senti um calafrio, como se estivesse perdendo a idade da inocência.

Do lugar do Ribeiro, subindo ao Outeiro, passando pelo largo da Lameira, o percurso nem era longo, mas as botas não correspondiam, pareciam vir para trás e isso apenas começou a passar à chegada à escola.

Lá estava a maioria da nossa tribo, a dos pequenos iniciantes. Abraçados numa algazarra como se não estivéssemos juntos há séculos, mas ao olhar os maiores das outras classes, a maioria repetentes, quase homens, ficamos aterrorizados: íamos ficar todos na mesma sala, na escola de baixo, pois a de cima era das raparigas.

Entramos e a sala parecia enorme e a professora, uma senhora da aldeia da Mata, parecia o juízo final, como se não bastasse ser de onde era.

Já nos tinham ensinado em casa o cumprimento:

- Bom dia Senhora Professora.

- Bom dia meninos. Bem-vindos.

Mas bem-vindos a quê? Quanto tempo levaria a aprender e quantas horas seriam por dia?

A nossa "vida" lá fora não podia esperar o tempo que a professora queria. Quem iria apanhar os nossos tralhões, atirar aos ouriços roubados das castanhas, espreitar os ninhos e ir ao rio pescar?

Sem nós o mundo pouco duraria. No intervalo que demorava a chegar, a tribo iria reunir. Quando a professora grita:

- Meninos podem sair, meia hora de recreio e portem-se bem, ouviram? Aqui a horas!

Qual meia hora, a maior parte de nós criou fogo nos pés e ainda hoje seriamos foragidos se não nos tivessem apanhado!

Até porque era o primeiro dia de escola e nem sequer tínhamos relógio...






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13 COMENTÁRIOS:

chica

Que legal ver o Xico e seus relatos e recordações por aqui! abração aos dois! chica

Célia

É a realidade de muitos de nós... mestres e alunos!
Parabéns pelo enfoque no dia de hoje!
[ ] Célia.

XicoAlmeida

Que dizer?
Obrigado, fiquei embaraçado, não esperava a distinção, mas no "Nascendo até hoje" apenas quero partilhar um percurso de vida de muitos altos e baixos.
Sabes que o meu coração está no "blog dos forninhenses" mais a minha querida amiga especial, Aluap.
Mas esta vivência de 57 anos em que tenho conhecido um pouco de tudo, desde a pirâmide até à base, sendo interventivo, tratando ministros por tu e "pobres", afinal os mais ricos por você, em consciência tinha de partilhar.
Sei que serei julgado, mas pagarei o preço com felicidade e alegria.
Um beijo, amiga.

Anete

Bom demais encontrar o Xico por aqui, Anne!
Gosto demais da sua forma de narrar histórias da sua vida, tão cheias de experiências e emoções...

Um abraço p os dois...
Com carinho

Unknown

Acho até que todos nós que passamos pelas escolas dos tempos próximos passados não ter essas recordações.
Maravilha de leitura!
Parabenizamos a todos os professores/as por essa data.
Abraço

Daniel Costa
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Costa
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Daniel Costa
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Daniel Costa

Anne

Chico almeida, faz um bonito relato do que era a escola dos meus tempos. O pião, a fisga, o berlinde e as conchas (tampas de garrafas ou marinhas) eram indispensáveis. Recordar é viver, porque hoje é muito diferente.
Beijos

POETA CIGANO


Querida amiga Anne !!!!!

Senti-me honrado com mais uma sua presença Em minha Página. Passando para retribuir e deixar O meu Abraço e carinho. Perdoa-me um pouco A ausência, pois estou meio atarefado e sem Tempo, mas não a esqueço.
Interessante postagem, nos levando aos tempos de criança, escola.
Uma semana maravilhosa é o que desejo
Para você. Com muita paz, amor e, felicidade em
Seu coração. Que haja muita luz em seu caminho.
Beijos de luz !!!

POETA CIGANO – 15/10/2013

http://carlosrimolo.blogspot.com
“Poesias do Poeta Cigano”

Marlene

CHICO ALMEIDA PESSOA ÚNICA ESPECIAL
FALA EXATAMENTE A MEDIDA DOS SENTIMENTOS COM SUAS PALAVRAS LINDAS PARABENS AOS DOIS COM TODO MEU CARINHO BJS MARLENE

aluap

Que bom soube chegar aqui e reler o texto do meu amigo Xico Almeida.
Uma entrada muito bem apresentada, sobre o que era a vida nas nossas aldeias.
Viajei no tempo e de repente voltei às carteiras desta escola. Lembro-me bem das carteiras em madeira com uma ranhura para os lápis.
Depois há as brincadeiras nos recreios, amuos e joelhos esfolados que nunca se esquecem…
Recordar é Viver.

Anônimo

Anne! Meus parabéns ao autor por essa memorável história. Beijo!

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