COMEÇANDO A ESCOLA...
Penso
ter sido a 7 de Outubro de 1963!
Finalmente
iam-se abrir as portas da iniciação escolar, íamos para a primária.
Há
dias que sentíamos um nervoso miudinho, fruto da ansiedade.
Afinal
o que era ir para a escola, diziam, aprender a ler e escrever. E ter regras.
Afinal
o que seriam as regras, nós já as tínhamos os castigos das nossas tropelias ou
seria que ali iríamos ter mais castigos por já antevermos que seria uma casa de
aventuras?
À
noite, depois da ceia, a minha mãe ia costurando agarrada à máquina Singer.
Esta a fazer a sacola de pano azul, cuja alça poria a tiracolo. Na véspera
colocou dentro o livro, no qual aprendeu a ler a minha irmã Lurdes, um caderno
com linhas reservado aos ditados e redacções, a pedra de lousa com caixilhos de
madeira na qual se iriam fazer os exercícios.
Faltava a caneta de aparo para
molhar no tinteiro incrustado no tampo da carteira.
Noite
mal dormida, calção vestido preso por suspensórios, apesar de já termos entrado
no Outono, mas ainda estar quente. Botas de cabedal ensebadas e boina espanhola
na cabeça e vamos ver como é o mundo de quem sabe ler.
À
saída do páteo, volto atrás, faltava o pião que logo meti na sacola e a minha
rica fisga.
Agora
sim, podia enfrentar o mundo e ia armado com a fisga no bolso de trás.
Ao
fechar a porteira senti um calafrio, como se estivesse perdendo a idade da
inocência.
Do
lugar do Ribeiro, subindo ao Outeiro, passando pelo largo da Lameira, o
percurso nem era longo, mas as botas não correspondiam, pareciam vir para trás
e isso apenas começou a passar à chegada à escola.
Lá
estava a maioria da nossa tribo, a dos pequenos iniciantes. Abraçados numa
algazarra como se não estivéssemos juntos há séculos, mas ao olhar os maiores
das outras classes, a maioria repetentes, quase homens, ficamos aterrorizados: íamos
ficar todos na mesma sala, na escola de baixo, pois a de cima era das
raparigas.
Entramos
e a sala parecia enorme e a professora, uma senhora da aldeia da Mata, parecia
o juízo final, como se não bastasse ser de onde era.
Já
nos tinham ensinado em casa o cumprimento:
-
Bom dia Senhora Professora.
-
Bom dia meninos. Bem-vindos.
Mas
bem-vindos a quê? Quanto tempo levaria a aprender e quantas horas seriam por
dia?
A
nossa "vida" lá fora não podia esperar o tempo que a professora
queria. Quem iria apanhar os nossos tralhões, atirar aos ouriços roubados das
castanhas, espreitar os ninhos e ir ao rio pescar?
Sem
nós o mundo pouco duraria. No intervalo que demorava a chegar, a tribo iria
reunir. Quando a professora grita:
-
Meninos podem sair, meia hora de recreio e portem-se bem, ouviram? Aqui a
horas!
Qual
meia hora, a maior parte de nós criou fogo nos pés e ainda hoje seriamos
foragidos se não nos tivessem apanhado!
Até
porque era o primeiro dia de escola e nem sequer tínhamos relógio...
Visite o autor em seu blog:
13 COMENTÁRIOS:
Que legal ver o Xico e seus relatos e recordações por aqui! abração aos dois! chica
É a realidade de muitos de nós... mestres e alunos!
Parabéns pelo enfoque no dia de hoje!
[ ] Célia.
Que dizer?
Obrigado, fiquei embaraçado, não esperava a distinção, mas no "Nascendo até hoje" apenas quero partilhar um percurso de vida de muitos altos e baixos.
Sabes que o meu coração está no "blog dos forninhenses" mais a minha querida amiga especial, Aluap.
Mas esta vivência de 57 anos em que tenho conhecido um pouco de tudo, desde a pirâmide até à base, sendo interventivo, tratando ministros por tu e "pobres", afinal os mais ricos por você, em consciência tinha de partilhar.
Sei que serei julgado, mas pagarei o preço com felicidade e alegria.
Um beijo, amiga.
Bom demais encontrar o Xico por aqui, Anne!
Gosto demais da sua forma de narrar histórias da sua vida, tão cheias de experiências e emoções...
Um abraço p os dois...
Com carinho
Acho até que todos nós que passamos pelas escolas dos tempos próximos passados não ter essas recordações.
Maravilha de leitura!
Parabenizamos a todos os professores/as por essa data.
Abraço
Anne
Chico almeida, faz um bonito relato do que era a escola dos meus tempos. O pião, a fisga, o berlinde e as conchas (tampas de garrafas ou marinhas) eram indispensáveis. Recordar é viver, porque hoje é muito diferente.
Beijos
Querida amiga Anne !!!!!
Senti-me honrado com mais uma sua presença Em minha Página. Passando para retribuir e deixar O meu Abraço e carinho. Perdoa-me um pouco A ausência, pois estou meio atarefado e sem Tempo, mas não a esqueço.
Interessante postagem, nos levando aos tempos de criança, escola.
Uma semana maravilhosa é o que desejo
Para você. Com muita paz, amor e, felicidade em
Seu coração. Que haja muita luz em seu caminho.
Beijos de luz !!!
POETA CIGANO – 15/10/2013
http://carlosrimolo.blogspot.com
“Poesias do Poeta Cigano”
CHICO ALMEIDA PESSOA ÚNICA ESPECIAL
FALA EXATAMENTE A MEDIDA DOS SENTIMENTOS COM SUAS PALAVRAS LINDAS PARABENS AOS DOIS COM TODO MEU CARINHO BJS MARLENE
Que bom soube chegar aqui e reler o texto do meu amigo Xico Almeida.
Uma entrada muito bem apresentada, sobre o que era a vida nas nossas aldeias.
Viajei no tempo e de repente voltei às carteiras desta escola. Lembro-me bem das carteiras em madeira com uma ranhura para os lápis.
Depois há as brincadeiras nos recreios, amuos e joelhos esfolados que nunca se esquecem…
Recordar é Viver.
Anne! Meus parabéns ao autor por essa memorável história. Beijo!
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