É BOBAGEM.
(Paulo Tamburro)
Já
tive muito mais medo da morte do que atualmente, e explico.
Quando
pensava nela, via-me dentro daquele caixão abarrotado de flores branca e só meu
rosto disponível para o ultimo adeus do respeitável público da minha parentela
próxima e amigos em geral.
Algo
que sempre me intrigou é inevitável aparência quase angelical e suave de quem
parte.
Depois descobri que o profissional que prepara os defuntos, coloca em
geral um suave sorriso na boca do extinto e até uma leve maquiagem, no cara que
cantou para subir, deu o último suspiro, foi pro saco, bateu as botas, essas
coisas que dizem e, então, ele fica com
certo ar de tranqüilidade e até... Felicidade no rosto.
Que
crueldade!
Eu
nestas minhas incursões obsessivas sobre minha própria morte me via no meio
daquelas horrorosas coroas nas cores uniformizadamente roxas com faixas em
letras douradas tipo: “Descanse em paz”, “Saudade de seus amigos” e outras mais
atrevidas que, nem eram expostas como as que dizem que, ”Vou cobrar suas
dívidas da sua esposa” e até as ofensivas adjetivando o morto de ”Galinha” e,
quantas outras verdades e inverdades. Para variar sobrevoando as flores das
coroas e atraídas pelo seu néctar, imaginava aquela contumaz invasão terrorista
de abelhas, em sobrevoo rasantes e um zumbido infernal em meio aos pesarosos e
contritos, agora ameaçados, membros daquele grupo.
Chegava
a sentir o odor desnecessário de vela queimando, o olhar de alguns parentes que
até mesmo, odiavam o cidadão agora em decúbito dorsal, aquela fatídica mulher
desconhecida da família, encostada num cantinho da sala e os inevitáveis
cochichos das fofoqueiras habituais:
-Quem
é aquela?
Enfim,
fecha-se a tampa do caixão e lá fora um sol escaldante. Convida-se então para
que, a tropa siga para a última morada e seis bravos voluntários seguram as
alças do caixão e lá se vão alamedas acima, todas com muitos pés de mangas. A
manga de cemitério é a melhor de todas pela sua doçura, consistência e
abundantes de nutrientes.
Estamos
nos momentos finais e a família chora desesperadamente, alguns desmaios, e
outros não contêm os choros mais altos e todos estão agora vendo o caixão
abaixar e pronto, abaixou.
Vem
a pior parte, pois um cara com uma caixa contendo cimento e uma pá fecha tudo
bem direitinho, para não deixar nenhuma abertura e agora eu pergunto: E se o
cidadão sofrer de Catalepsia que é um estado de sono profundo, no qual os
batimentos cardíacos ficam tão fracos a ponto de se tornarem imperceptíveis?
Quando
imaginava isso tremiam minhas pernas, pois, já foram muitos aqueles que até
levantaram do caixão ou à noite ouviu-se um barulho no jazigo do distinto e
quando foram ver o corpo estava virado ou forçando a tampa para sair.
Casos
clássicos no Brasil foram os do cantor Paulo Sergio e o ator Sergio Cardoso,
que teriam sido enterrados vivos. Que horror, mas podem pesquisar!
Então,
catalepsia à parte, diante de tudo isso eu sempre tinha uma visão da morte,
“vendo” aquilo tudo, toda aquela parafernália de tristezas e choradeiras, como
se ainda eu estive vivo.
Mas
fiquei muito tranquilo,depois que me conscientizei que morto não vê nada!
Parece
bobagem, não é?
Porém,
de bobagem em bobagem é que a gente vai morrendo em vida até descobrir que elas
são realmente isso: Bobagem.
Quer
que eu minta?
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5 COMENTÁRIOS:
Que leitura maravilhosa essa! Beleza, cheia de realismo, comicidade e verdades! abração aos dois,chica
Muitas verdades e como diz a Chica realidades.
Parabéns ao amigo Paulo Tamburro.
bjs amiga Anne.
Carmen Lúcia.
Paulo fez, com muita maestria, da morte, um episódio cômico... Excelente!
Abraços.
Quase desisti de ler, no decorrer do texto, mas consegui chegar até o final (confesso que com taquicardia e já meio sufocada) e já estou indo....ai, ai, ai Paulo assim você me mata!
rsrs
Beijos Anne querida.
Beijos meu amigo Paulo.
Excelente reflexão.
Um abraço e uma boa semana
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