PEQUENO
CONTO
(
SU)
Era tarde, ela deveria estar dormindo, mas seus pensamentos não a
deixavam descansar. Três semanas haviam se passado, mas ela ainda não conseguia
esquecer tudo que passara naquela noite. As cenas estavam ainda tão
vivas em sua memória, mesmo querendo esquecer cada segundo de dor.
"Aquelas luzes fortes e brilhantes ainda ofuscavam seus olhos, e a
faziam querer fechá-los. O som dos instrumentos, a conversa entre o médico e o
anestesista, a enfermeira ao seu lado, o gosto amargo na boca, a mistura de
cheiros no ar, e a falta de sentidos da cintura para baixo. Tudo parecia tão
vivo dentro de si, mas não era mais. De repente um silêncio se instalou, as
vozes foram sumindo, as luzes se apagando e quando ela voltou a abrir os olhos,
o cenário era outro, não muito diferente, pois ela percebera que tudo aquilo
era real, muito real, não havia sido um pesadelo, embora tivesse todos os
requintes de um.
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Ela abriu os olhos lentamente, procurou seus óculos ao lado da
cama, como de costume, mas não o encontrou, por um instante tentou se levantar,
mas logo percebeu que seu corpo doía, a cabeça girava e o melhor a fazer era
permanecer deitada. Nesse momento a enfermeira entrou em seu quarto,
trazia uma medicação recomendada pelo médico. Com gentileza a enfermeira lhe
ajudou a sentar e lhe deu o comprimido, e em seguida a ajudou a deitar
novamente e com carinho lhe disse para tentar dormir um pouco. O dia
amanheceu ela imaginava ter conseguido dormir algumas horas, sem os óculos e
sem relógio, o tempo ficava completamente perdido em seus minutos. Mas isso não
importava, ela estava ali deitada em uma cama, sem conseguir ainda organizar as
idéias, olhava para a janela ao seu lado e só conseguia ver que lá fora chovia
muito, o céu estava cinza e triste, e o vento teimava em bater nos vidros das
janelas. Foi quando ela lentamente tocou seu ventre sabendo que não havia mais
uma vida ali. Sentiu então uma dor inexplicável, e teve a certeza que a partir
daquele instante precisaria/aprenderia a conviver com
ela."
Completamente absorvida por essas lembranças, ela resolveu acender o
abajur de seu quarto, sem fazer barulho para não acordar seu marido, pegou seus
óculos no criado mudo ao lado da cama e tentou ler um livro, mas ela não
conseguia se fixar na leitura. Mais uma vez começou a fazer suas orações, e com
toda sua fé pediu a Deus para que lhe apagasse aquelas imagens da memória.
Nesse instante, seu marido que dormia, despertou, olhou para ela e percebendo
sua tristeza, levantou-se, lhe deu um abraço, acariciou seu rosto, recostou sua
cabeça em seu ombro e assim os dois permaneceram por algum tempo, até que ele
acreditou tê-la feito dormir. Era madrugada ainda, ela abriu os olhos
bem devagar, e viu que seu marido dormia novamente, sorriu,
sentiu-se segura e amparada, deitou-se novamente, recostou sua cabeça em
seu travesseiro e teve a certeza que apesar de toda a dor que passara, havia
muito amor entre eles e assim, lá pelas tantas da madrugada ela
conseguiu dormir em paz. (*Su)
O blog da autora foi removido.
3 COMENTÁRIOS:
Lembranças amargas entristecem à alma e não conseguimos que elas de nós se afastem.Só o tempo e a compreensão dos perto poderão amenizar a dor.
O texto de Su é magnífico. Parabéns a ela e a você Anne por ter aqui publicado.
Abração.
Adoro ver como a Su escreve. Já falei pra ele fazer um blog de contos também!!
beijos às duas,chica
Adoro contos!!! Parabéns à Su!!!!
Beijocas nas duas!
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