O POETA E A
BARATA
( CARLOS
SOARES)
Vocês pensam que só mulher tem medo de barata? Engano total. Eu
também tenho e não sinto vergonha de falar, eu tinha um amigo que morria de
medo de galinha. No meu caso não é exatamente medo, sinto repulsa, nojo a ponto
de vomitar, não chamem pro mesmo recinto “Carlos e barata”, pois ela fica e eu
saio. Se pousar em mim então... quase morro, passo mil desinfetantes no local.
Quando era novo, rasguei uma camisa porque uma veio voando e entrou. De vez em
quando eu mato uma, viro o rosto e disparo inseticida, jamais esmago, aí mesmo
que meu estômago vira. Depois eu varro sem olhar para ela. É dose, viu? Já
dormi sem banho porque tinha uma barata no banheiro, acordei de madrugada todo
suado, fui lá, ela não estava, aí tomei banho. Essa aconteceu há poucos dias.
Eu sempre ponho o prato na mesa, vou comendo vendo TV. De repente, quem eu vejo
do outro lado damesa olhando pra mim, bem de frente? Uma baratona feiosa,
enorme, mexendo as antenonas, como se fosse uma convidada pro jantar. . “Ai,
meu Deus, e agora? Se eu me levantar bruscamente, ela pode voar pra cima de
mim. Ficar quieto também não posso, como vou jantar com esse bicho feio me
olhando?”. Foram vários minutos tensos. Dei umas sopradinhas no rumo dela pra
ver se ela saía, o máximo que minha visitante indesejável fez, foi dar uma
viradinha de lado, mas voltou à posição normal, me encarando. Tomei coragem e
observei melhor a danada. Estava gordinha, parecia grávida, isso me deu ainda
mais nojo, coloquei até a mão na boca como se fosse vomitar. Falei para ela.
“Vai embora, poxa, me deixa em paz”. Parece que ela respondeu. “Vou não, vou
ficar aqui pra te aporrinhar”. E as antenas não paravam, depois foram as
perninhas cabeludas passando uma na outra. Falei de novo. “Se você não for, vou
ter que pegar inseticida e eu não quero fazer isso. Vai embora, vai”. Ela deu
um passo à frente. Pensei. “Pronto, ela vai encarar. Agora é ela ou eu”. Olhei
pra cima do armário e não vi o inseticida, lembrei que tinha acabado. Minha
ideia era me levantar bem devagar, mas meu pé se enroscou no fio do notebook,
eu quase caí, ainda bem que não, pois se caísse ia levar junto prato, copo,
celular e notebook. A barata também se assustou e voou passando sobre minha
cabeça, só faltou eu gritar ”mamãe”. Ela ficou pra lá e pra cá, pousava aqui,
pousava lá e eu encurralado no canto, branco de pavor. Foi aí que pensei, ela
queria sair. Corri abri a janela e toquei-a c om a toalha e ela voou pra longe,
espero que seja pra nunca mais. Falei comigo mesmo. “Vai, minha filha, vai ser
feliz e me deixe em paz”.
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10 COMENTÁRIOS:
rssss...Muito legal!!!Gosto dois textos do Carlos! abração,chica
Hilário!
Aqui em casa sobra sempre para mim dar um jeito nelas, mesmo tendo filho, marido, cachorro e gato.
Abração e um ótimo feriadão.
Anne! Eu achei essa poesia do Carlos Soares muito boa para quebrar paradigmas. Gostei! Beijos mil!
Boa reflexão! Bjs e bom fim de semana!
Também tenho nojo de baratas... e sempre vou ter!!!
Bjs do Neno
Pode ser nojento e ssustadora caro colega, mas é cômico, muito engraçado. Faço questão que leia esta historinha minha,(A barata esperta) para você ver a semelhança. Só uma diferença, não tenho medo, só nojo.Muito legal teu texto. Abraços.
http://www.recantodasletras.com.br/infantil/1565614
A barata esperta(Dora Duarte)
Ri muito. Um barato essa história. Vivo situaçães semelhantes com lagartixas! Beijos e vou lá conhecer o Carlos!
Anne ri um bocado com o Carlos imaginando a cena, coitado beijos Luconi
Só hoje pude ter o prazer de ver meu texto aqui.Obrigado, gente. A boa notícia, consegui recuperar meu blog. Beijos
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